Psicanálise do Trauma e TEPT: Escutando o que não Pôde ser Dito

O trauma não é definido apenas pelo evento em si, mas pela forma como ele é vivido e processado pelo sujeito.

Na psicanálise, o trauma é entendido como uma experiência que rompe a capacidade psíquica de simbolizar, deixando um excesso de excitação e angústia que não pôde ser integrado à narrativa de vida.

Freud: Do Trauma Sexual ao Trauma Psíquico

Freud inicialmente associou o trauma a experiências sexuais precoces reais.

Mais tarde, ao desenvolver o conceito de fantasia inconsciente, compreendeu que a intensidade traumática também podia estar ligada à forma como o sujeito interpreta o evento.

O trauma, nesse sentido, é resultado tanto de fatores externos quanto da estrutura interna que recebe o impacto.

O Retorno do Recalcado e o Sintoma Traumático

Na perspectiva psicanalítica, o trauma não é apenas lembrado — ele retorna de forma repetitiva e invasiva, seja em sonhos, flashbacks ou sintomas corporais.

Essa repetição é uma tentativa inconsciente de elaborar o vivido, ainda que dolorosa.

No TEPT, isso se traduz em hipervigilância, evitação e revivescência constante do evento.

Lacan: O Real do Trauma

Lacan associa o trauma ao encontro com o Real — algo que escapa à simbolização e que deixa o sujeito sem palavras.

Esse “furo” na trama simbólica exige um trabalho clínico que não force a lembrança, mas que permita que novas formas de representação surjam no tempo do paciente.

Aplicações Práticas para Terapeutas

1. Criar um espaço seguro – garantir que o setting terapêutico seja estável e previsível.

2. Respeitar o tempo da fala – não pressionar o paciente a narrar o trauma antes que esteja pronto.

3. Acolher manifestações corporais – reconhecer que o corpo muitas vezes “fala” antes da mente.

4. Trabalhar a simbolização gradual – ajudar o paciente a construir palavras, imagens ou metáforas para a experiência.

5. Evitar interpretações precipitadas – privilegiar a escuta ativa e a presença sobre a análise imediata.

A psicanálise entende que o trauma só se elabora na relação, quando o paciente encontra um outro capaz de escutar aquilo que antes era insuportável.

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Blog do Instituto Sul-Americano de Saúde Mental www.insme.com.br